sábado, 26 de abril de 2008
O que faz alguém sentado ao computador às duas e meia da matina?
terça-feira, 22 de abril de 2008
Pam-pam-pam-pam-pam paaam
A Peça:
Lembro bem quando começamos a escrevê-la. Tratava-se de uma brincadeira que tínhamos inventado (ou eu tinha sugerido), onde cada um assumia parte do diálogo entre dois personagens. Um era Garcin, inicialmente um jesuíta. Outro era o Weinstein, um judeu maníaco-depressivo. Era uma aula de Ed. Fís. onde eu, pra variar, não fiz porra nenhuma ... que tivesse a ver com Ed. Física.
Garcin, como todos vocês devem saber, teve o nome tirado de uma peça do Sartre, Entre Quatro Paredes, da qual eu muito gostava. Aliás, adoro Sartre. Quem nunca leu A Idade da Razão? Enfim. Adoro-o. Certo dia trarei alguns fragmentos de Eróstrato.
Voltando à Peça...
Lembro dos primeiros diálogos, e da minha tara por simonia. Sempre quis vender relíquias religiosas. Está no meu sangue de capuchinho depravado. (/gotgot)
Lembro também de quando criei o Abade e ele o Hitler. Malzoni foi responsável por canalizar toda a influenza que a poesia florentina teve sobre mim. Aliás, Malzoni também é a cópia daquele padeiro, do Cyrano. Como é mesmo o nome dele? É o padeiro parisiense, que é sacaneado por um bando de vagabundos, mas que escreve belos versos neoclássicos. Pessoalmente, fico feliz em nunca ter conhecido um Malzoni em minha vida, salvo se ele tiver uma padaria.
Atéapróxima.
Buenas.
Sobre o Blog:
Juventude Mahleriana é invenção do Buck, mas eu gostei do título. Ele é tão belo e sonoroso em alemão quanto no damn fuck português (vejamos se as tags funcionam).
Sobre o Festim:
Não é uma libação de elma chips, não, crianções. O Festim é a Peça (letras maiúsculas dão um ar de religiosidade para o nosso monstrinho) que escrevemos no final de 2005, ou que começamos a escrever no final de 2005........... enfim, etc e etc. Há algumas curiosidades que comentarei sobre ela, que não são tão curiosas assim, e que provavelmente vocês não queiram saber (mas mesmo assim os farei engolir em seco). Fanfarras e tal, vamos ao ponto final.
Sobre a regularidade dos meus posts:
Não é sempre que terei
Sobre meus posts:
Poemas, textos random, fragmentos da Peça e muitos, mas muitos comentários. Papo furado.
Sobre o fim deste post:
Este é o post inaugural. Segundo post fica para depois do banho.
Au revoir, camarade.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Um par de estranhas estórias
Pediram-me hoje, em casa, para preparar uma xícara de cappuccino. Normalmente o pó para fazê-lo está bem na frente de um compartimento do armário da cozinha; como não o achei, saí a fuçar pelo armário. Achei uma lata do pó, no fundo do armário. No fundo do fundo, melhor dizendo. Como a lata era diferente da que esperava encontrar, pensei que talvez fosse velha; logo, olhei a data de validade, que encontrei no fundo.
Era 25 de abril... de 2002. A lata ficou esquecida no fundo do armário, no fundo do fundo do armário, por seis anos. O interessante é que nós nos mudamos para cá alguns meses depois que essa lata de cappuccino venceu: se a lata não foi jogada fora então, ela não deve sequer ter sido tirada do armário na mudança. Espero não achar esqueletos em algum outro armário.
II.
Esta vem dum amigo meu e do Kinch, o Norton:
Um professor dele na faculdade é um ex-capuchinho (esperaí, acabei de falar em cappuccino!). Ele e outros colegas começaram a especular por que o professor tinha deixado a vida religiosa para se tornar professor; criaram hipóteses coerentes e absurdas, até que um dos colegas deu a sua interpretação: “Ah, ele foi expulso da ordem porque comeu o meu c*”.
Eu queria fazer algum comentário sobre o assombro que isto causou àqueles a quem eu vi o Norton o contar, eu próprio inclusive, mas não me sinto à altura. Vou é rir mais um pouco disto; até a próxima.
Gustav Mahler: Quinta Sinfonia - Claudio Abbado
Sinfonia nº 5 (em dó sustenido menor)
Berliner Philharmoniker (Orquestra Filarmônica de Berlim)
regência: Claudio Abbado
Gravado ao vivo como parte do Festival Mahler, na Grande Sala do Concertgebouw, Amsterdã, 9 de maio de 1995.
I. Trauermarsch. In gemessenem Schritt. Streng. Wie ein Kondukt [12:55]
II. Stürmisch bewegt, mit größter Vehemenz [15:04]
III. Scherzo. Kräftig, nicht zu schnell [17:45]
IV. Adagietto. Sehr langsam [8:46]
V. Rondo-Finale. Allegro – Allegro giocoso [16:09]
É só baixar!
Gustav Mahler: Segunda Sinfonia - Pierre Boulez
Sinfonia nº 2 em dó menor ("Ressurreição")
Christine Schäfer, soprano
Michelle DeYoung, mezzo-soprano
coro: Wiener Singverein
Wiener Philharmoniker (Orquestra Filarmônica de Viena)
regência: Pierre Boulez
I. Allegro maestoso [20:28]
II. Andante moderato [9:04]
III. In ruhig fließender Bewegung [9:20]
IV. Urlicht. Sehr feierlich, aber schlicht [5:30]
V. Im Tempo des Scherzos. Wild herausfahrend [35:11]
É só baixar!
Movimentos I-IV
Movimento V
Festim de Palavras, ato II, cena I
Segundo ato da peça aindaincompleta, de co-autoria do Kinch e minha. Enquanto o primeiro ato apresenta diversos personagens ao público, o segundo é centrado em dois personagens, o abade Müller e Garcin, envolvidos numa briga que nos arrancou muitas gargalhadas enquanto escrevíamos. Como se fôssemos o James Joyce. Rá!
O ato se passa dentro da igreja local; Garcin e o abade discutem depois da missa celebrada pelo último (e avacalhada sotto voce pelo primeiro).
[...]
(Irrompe um rosnado.)
O estomagodoabade: Traze-me algo!
(O abade apanha uma tigeladeprata. Enfia nela a mão esquerda e colhe um formidável bocado de hóstias, as quais enfia na bocarra e mastiga de forma animalesca. Engole a pasta mastigada. Arranca a garrafa das mãos de Garcin e bebe um cálice deumgolesó.)
O abade (arrotando): Vês como tenho uma excelente digestão. Devias preocupar-te com a tua, pois tua lascívia vai trazer-te em breve um cornudo qualquer com uma faca para abrir-te a barriga!
Garcin (ouve-se um peido): Ouviste? É o sistema digestivo reivindicando, reclamando a própria vivência e bem-estar! (Desata em gargalhada.)
O abade (come outro bocado, bebe mais um gole): Ninguém se preocupa com o bem-estar dos ratos.
Garcin (sarcasticamente terno): Podes alcançar-me um pouco desse corpo de Cristo, meu anjo?
O abade: Foste um rato puro. Comunga com a Igreja. (Deposita a tigela no soalho e, com o pé esquerdo, empurra-a na direção de Garcin, que a apanha, devora as hóstias restantes e atira-a para longe.)
[...]
(O abade, cegodefúria, ziguezagueia em busca de outra arma. Colhe um grandesantodemadeira e corre de volta contra Garcin. Levanta com esforço o maciço São Tomás de Aquino.)
Tomás de Aquino: Morituri te salutant.
Garcin: Aquino não poderia mesmo ser oco...
(O abade quebra o santo na cabeça de Garcin, que cai desacordado, com um galo emrápidocrescimento e um ou dois pequenos sangramentos no rosto, causados pelos cacos de garrafa.)
A cabeça de Aquino (rolando pelo pavimento): Meu teste aristotélico cumpriu-se perfeitamente!
[...]
Garcin (falando de olhos fechados): Um primeiro galo, um segundo, um terceiro ferimento – foi-me bom o rendimento!
O abade (gaguejando): E-está fa-falando? Francês? (apavorado.)
[...]
(O abade arrasta o francês até o altar: esconde-o sob a mesa, onde é oculto por longa toalha branca.)
Weinstein (batendo à porta): Senhor abade!
O taverneiro (idem): Eminência!
As batidas: Tchan-tchan-tchan-tchaaaaaaaan!
O abade (reagindo às batidas): A quinta!
Garcin: Aos quintos! Que interpretação horrorosa! Não conhece Furtwängler?
domingo, 20 de abril de 2008
Festim de Palavras, ato I
(Entra o rapazinho Friedrich, tendo segura sob o braço uma tabuleta onde lê-se, simplesmente: aplausos.)
Friedrich (jocoso): Não se morre no meio do quinto ato. (Deposita a tabuleta ao pé do balcão.)
O abade (novamente distraído, tendo perdido os olhos em meio a duas saias) Oh... sim... (volta-se, num rompante de pânico) Onde?! (Olha Friedrich, fitando-o intrigado, logo dando-se conta e fazendo um sinaldacruz) Eu preciso ir: rosna-me a fome. Estejais com Deus... (Eleva a voz sutilmente) ambos!
O estômago abacial (enérgico, rosna): Salame!
O dono do estômago (subjugado): Qual?
O estômago: Hamburguês!
O dono: Regado a um bom vinho... Ótima sugestão!
O estômago: Não! Cerveja!
O dono (contrariado): Prefiro vinho...
O estômago (imperativo): Cerveja! À taverna!
O dono (resignado): Ao senhor Jakob Hitler, então. (Faz outro sinaldacruz ao judeu e ao menino e sai no mesmo instante em que o leiteiro está a entrar. Os dois ficam entalados por alguns instantes, até que o maior vigor do leiteiro prevalece, empurrando o abade de volta para dentro. O abade finalmente deixa o lugar.)
Friedrich (com o pé, deita a tabuleta): Papai está alterado. Ele não é movido a álcool, o senhor sabe, não senhor Weinstein?
Weinstein (rememorando): Sim. Aquela festa da colheita, quinze anos atrás... Não bebo mais de uma caneca desde então. Índices alcoólicos elevados prejudicam a direção.
Leiteiro: De fato! De fato... leite é o novo carvão dos corações taverneiros, arruaceiros, bandoleiros... (voz gradativamente mais baixa) Bom, senhores; em respeito sublime, astral, magnânimo (voz enfática) que devoto à auréola abacial, ainda não espalhei de meu ar! Mas fiquem tranqüilos que o leite ainda não virou coalhada! (Com jovialidade pura, estende uma garrafinha de leite ao jovem Friedrich) É de boa safra! (Ele abre a garrafa e bebe um gole. Então, estende a garrafa a Friedrich) Tomou?
Friedrich (seco): Essa empresa acabará por falir, senhor Brahms.
Weinstein (distraído): Cacau adicionado ao leite fica delicioso.
Brahms (confuso): Obrigado pela sugestão, senhor Weinstein. (O músicoleiteiro sai.)
(Ouve-se a voz de Brahms do lado de fora.)
Brahms (a outra senhora idosa): Leite fresco!
A senhora Kohl (jovial): Não, obrigada.
Brahms (à outra senhora que acompanha a primeira): Leite? (Os três aparecem através da porta.)
A outra senhora (de forma rabugenta): Não! Não quero seu leite, suas sinfonias, seus concertos! Chega dessa insistência!
Brahms (sarcástico): Eu só venderia o leite à senhora. Minhas sinfonias e meus concertos, vendo-os a Viena.
(A primeira senhora disfarça um sorriso.)
A primeira senhora: Adeus, senhor Brahms!
Brahms: Adeus, senhoras Kohl!
(As irmãs Kohl se vão.)
Não conseguimos um contrato com aquela grande editora, então...
Brincadeira; na verdade, este blog é um projeto (se é que posso chamá-lo assim) para colocarmos à vista alguns textos nossos e outras imagens e sons que nos são caros. Muita diversão, muita cara-de-pau, aspirações mínimas. (Mas, se você for editor da Companhia das Letras, da Cosac & Naify, usw., e quiser nos ter no catálogo, fique à vontade, convidamos você para um cafézinho.)
Antes que eu me esqueça, por "nós" entenda-se eu, Buck, e meu caro Watson, quero dizer, meu caro Kinch, que deve comparecer em breve. Bis bald!