(Entra o rapazinho Friedrich, tendo segura sob o braço uma tabuleta onde lê-se, simplesmente: aplausos.)
Friedrich (jocoso): Não se morre no meio do quinto ato. (Deposita a tabuleta ao pé do balcão.)
O abade (novamente distraído, tendo perdido os olhos em meio a duas saias) Oh... sim... (volta-se, num rompante de pânico) Onde?! (Olha Friedrich, fitando-o intrigado, logo dando-se conta e fazendo um sinaldacruz) Eu preciso ir: rosna-me a fome. Estejais com Deus... (Eleva a voz sutilmente) ambos!
O estômago abacial (enérgico, rosna): Salame!
O dono do estômago (subjugado): Qual?
O estômago: Hamburguês!
O dono: Regado a um bom vinho... Ótima sugestão!
O estômago: Não! Cerveja!
O dono (contrariado): Prefiro vinho...
O estômago (imperativo): Cerveja! À taverna!
O dono (resignado): Ao senhor Jakob Hitler, então. (Faz outro sinaldacruz ao judeu e ao menino e sai no mesmo instante em que o leiteiro está a entrar. Os dois ficam entalados por alguns instantes, até que o maior vigor do leiteiro prevalece, empurrando o abade de volta para dentro. O abade finalmente deixa o lugar.)
Friedrich (com o pé, deita a tabuleta): Papai está alterado. Ele não é movido a álcool, o senhor sabe, não senhor Weinstein?
Weinstein (rememorando): Sim. Aquela festa da colheita, quinze anos atrás... Não bebo mais de uma caneca desde então. Índices alcoólicos elevados prejudicam a direção.
Leiteiro: De fato! De fato... leite é o novo carvão dos corações taverneiros, arruaceiros, bandoleiros... (voz gradativamente mais baixa) Bom, senhores; em respeito sublime, astral, magnânimo (voz enfática) que devoto à auréola abacial, ainda não espalhei de meu ar! Mas fiquem tranqüilos que o leite ainda não virou coalhada! (Com jovialidade pura, estende uma garrafinha de leite ao jovem Friedrich) É de boa safra! (Ele abre a garrafa e bebe um gole. Então, estende a garrafa a Friedrich) Tomou?
Friedrich (seco): Essa empresa acabará por falir, senhor Brahms.
Weinstein (distraído): Cacau adicionado ao leite fica delicioso.
Brahms (confuso): Obrigado pela sugestão, senhor Weinstein. (O músicoleiteiro sai.)
(Ouve-se a voz de Brahms do lado de fora.)
Brahms (a outra senhora idosa): Leite fresco!
A senhora Kohl (jovial): Não, obrigada.
Brahms (à outra senhora que acompanha a primeira): Leite? (Os três aparecem através da porta.)
A outra senhora (de forma rabugenta): Não! Não quero seu leite, suas sinfonias, seus concertos! Chega dessa insistência!
Brahms (sarcástico): Eu só venderia o leite à senhora. Minhas sinfonias e meus concertos, vendo-os a Viena.
(A primeira senhora disfarça um sorriso.)
A primeira senhora: Adeus, senhor Brahms!
Brahms: Adeus, senhoras Kohl!
(As irmãs Kohl se vão.)
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